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CLASSE SOCIAL

INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende abordar Classe Sociais a partir do conceito de sociólogos e filósofos que são grandes contribuintes para o pensamento contemporâneo, direcionando a reflexão do grupo ao segmento social das empregadas domésticas para que se possa obter correlação entre conceitos teóricos clássicos e a realidade social contemporânea. 

    Partindo do significado da palavra, é possível determinar: 

substantivo feminino 

1. cada um dos grupos ou divisões de uma série ou conjunto; categoria, seção, ordem. 

2. categoria de cidadãos fundada nas distinções da lei ou na diferença de condição. 


DEFINIÇÕES DE CLASSE SOCIAL 

    A partir dessa etimologia se faz necessário retornar ao século XIX, quando os principais sociólogos e filósofos se debruçaram no que hoje chamamos de Sociologia, destacando-se Karl Marx e Frederich Engels, que em 1848 publicam pela primeira vez a obra O Manifesto do Partido Comunista. Esse livro viria a ser um dos mais influentes da história da humanidade, e tornaria Marx o pai do Comunismo. Em parceria, os dois fizeram análises extremamente críticas ao Capitalismo. Esta obra traz o conceito do Comunismo e apresenta um modelo de sociedade oposta à capitalista. 

    Na perspectiva Marxiana, o Estado é o que permite e assegura a dominação da classe operária, e quando este comete erros se utiliza da repressão com força física(Polícia), para garantir os interesses da elite. Assim, Marx denuncia e expõe a perversidade do Capital, onde o proletário está alienado/ condicionado, obrigatoriamente, a atender e compreender as necessidades da burguesia, e assim não consegue compreender as suas. O conceito de Classe para Marx se dá a partir de três pressupostos: filosófico, econômico e histórico, se caracterizando numa abordagem estrutural, funcional e dinâmica. É necessário ressaltar que para Marx o que constitui critérios para Classes não é renda e estilo de vida, mas sim a política, ideologia e cultura. 

    CHAUÍ (2008), ao tratar sobre ideologia demonstra que essa não é uma simples palavra, é um paradigma que se perpetua em uma engenharia de epistemicídio. A Ideologia é uma arma potente para consolidações políticas. O termo propriamente dito, se propagou após ser bastante utilizado por Antoine Destutt de Tracy (1754-1836), filósofo francês que o usava para apontar uma nova ciência, que eram as “ciências das idéias”. Após isso, o conceito também foi estudado por Karl Marx (1818-1883), famoso filósofo alemão. Foram as idéias desse filósofo que originaram a relação existente entre ideologia e controle em sistemas teóricos divididos em: morais, políticos e sociais. 

    Esses sistemas eram estabelecidos na sociedade através de uma classe dominante. Classe essa, que para Karl Marx tinha como o principal intuito fazer com que os ricos fossem mantidos única e exclusivamente no poder. Ou seja, para que eles pudessem controlar a sociedade de uma forma geral. Podemos perceber que existem diversos tipos de ideologias e com diferentes significados, dentre esses podemos citar: 

● Ideologia Fascista: implantada na Itália e Alemanha, principalmente, nas décadas de 1930 e 1940. Possuía um caráter autoritário, expansionista e militarista. 

● Ideologia Comunista: implantada na Rússia e outros países (principalmente do leste europeu), após a Revolução Russa (1917). Visava a implantação de um sistema de igualdade social. 

● Ideologia Democrática: surgiu em Atenas, na Grécia Antiga, e possui como ideal a participação dos cidadãos na vida política. 

● Ideologia Capitalista: surgiu na Europa durante o Renascimento Comercial e Urbano (século XV). Ligada ao desenvolvimento da burguesia, visa o lucro e o acúmulo de riquezas. 

● Ideologia Conservadora: ideias ligadas à manutenção dos valores morais e sociais da sociedade. 

● Ideologia Anarquista: defende a liberdade e a eliminação do estado e das formas de controle de poder. 

● Ideologia Nacionalista: exaltação e valorização da cultura do próprio país. 

    Dessa forma, tudo o que o ser humano cria durante toda a sua vida, depende exclusivamente das coisas em que ele acredita. E isso é reflexo direto das experiências que o indivíduo participa ao conviver em uma sociedade. Podemos citar como exemplo claro de ideologia pessoas que nascem em uma família com um bom poder aquisitivo e uma pessoa que nasce em uma periferia. As duas usufruem de realidades, experiências e vivências diferentes e não só por questões econômicas, mas também as questões sociais, culturais, políticas e assim sucessivamente. Então, pode-se afirmar que a ideologia é um termo que está de modo direto ligado a essa realidade. Isso justamente porque a ideologia é composta por um conjunto de ações, valores, ideais, doutrinas e pensamentos que são verdadeiros para o indivíduo. Dessa forma, é a ideologia que justifica a escolha desses diferentes estilos de vida. 

    A industrialização (Revolução Industrial) é o início e com ela veio o surgimento da “ ideologia da competência”, onde a divisão de trabalho criou especialistas em determinadas áreas, a busca por quem sabe mais vem agravando cada dia mais, os “detentores do saber”, em sua maioria estudiosos, apropriam-se e utilizam o conhecimento como uma fórmula de dominação. Os especialistas são assim responsáveis por falar pela sociedade, tiram o direito de fala e a autonomia do sujeito comum, dos operários, as classe trabalhadoras, o direito de pensar e isso vem estruturando não só no modo de trabalho mas também no modo de pensar e agir, as escolas, universidades e faculdades onde apenas (em sua grande maioria) estão ensinando a classe minoritária apenas como trabalhar. E isso é um forte instrumento de dominação a partir do momento que a massa passa a não ter pensamento crítico e são reduzidos a apenas a produzir e consumir o sistema opressor gera lucros e se mantém vivo. 

    Um grande exemplo que CHAUÍ dá em umas das suas entrevistas é: Quando um repórter (que é o especialista) vai entrevistar alguém comum da região (cidadão que não detém saber algum*) normalmente o entrevistador pergunta como o entrevistado se sente com o ocorrido, pois ele entende que aquela pessoa da comunidade não sabe, porém sente e ele por ser especialista tem lugar de fala, isso é também manipulação da mídia. 

    Em uma das citações, a autora menciona também que: "A ideologia acaba com a história do Oprimido" aqui retrata bem a história do mundo, um exemplo claro disso é a escravização dos povos que ocorreu em todo mundo, os vencidos não tiveram direito a história, fazendo uma breve analogia do Brasil, desde de 1500 os Povos Africanos aqui trazidos, não tiveram direito a história, datas, livros ou quaisquer outra forma de manter a história deles viva. Eventos atuais que trazem a mesma marca são os descasos com a história, cultura e educação um verdadeiro genocídio com o conhecimento e pensamento crítico do país. Chauí afirma que há uma grande confusão entre entender o que é ideário e ideologia. O primeiro é um simples conjunto de ideias, o segundo por sua vez, é formado por um conjunto ideário histórico, político e social, com o objetivo de ocultar a realidade. Esse, ao omitir a realidade, permite a continuação da exploração sociopolítica, socioeconômica e sociocultural. 

    WEBER definiu que a "Sociologia é uma ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-la em seu curso e seus efeitos". Desta forma, o indivíduo é o objeto fundamental para sua análise social. Weber não define as classes sociais como comunidades, todavia considera que elas sejam bases possíveis para a “ação comunal”. A classe é definida, sob o ponto de vista econômico, de acordo com três características: como um grupo de pessoas que possuem em comum um componente causal específico de suas oportunidades de vida; na medida em que esse componente causal é representado exclusivamente por interesses econômicos ligados à posse de bens e oportunidades de rendimentos; é representado sob as condições específicas do mercado de produtos ou de mercado de trabalho. Logo, a classe social para Weber, se faz na ordem econômica. 

CLASSES SOCIAIS NO BRASIL 

    A desigualdade social que se faz no Brasil, tem seu embrião em 1500, quando os europeus chegaram nas "novas" terras, explorando os habitantes que aqui viviam, os povos indígenas. Com a expansão da exploração, populações africanas foram escravizadas, arrancadas de suas casas e trazidas para o outro lado do Atlântico. O legado de três séculos de escravidão foi o desamparo social e a construção de uma história marcada por uma grande engenharia do epistemicídio, onde os eixos dessa engrenagem são o Capitalismo, Intolerância Religiosa e Racismo. Em 520 anos, a sociedade brasileira foi ensinada a odiar a si mesma, de forma silenciosa, através dos Aparelhos Ideológicos do Estado - AIE. 

    Para tal discussão em dimensão nacional, Jessé Souza é um sociólogo que discute profundamente como se dão as Classes Sociais no Brasil moderno. Traz grandes críticas aos intelectuais brasileiros famosos como Sérgio Buarque, Gilberto Freyre e Roberto DaMatta. O sociólogo inicia sua obra fazendo um abarcado de conhecimento, dialogando com os outros intelectuais e mostrando aos poucos como se consolidou o complexo de vira-lata. SOUZA analisa a classe média brasileira e conclui que no país todos estamos num sistema - ideológico - que em processos de desenvolvimento social (principalmente com a ascensão da esquerda, especialmente do PT) esta elite age num retrocesso - A Elite do Atraso. Afirma ainda que as classes sociais não devem ser percebidas apenas como um fenômeno econômico, mas sim sociocultural. O autor apresenta três capitais que considera "decisivos na luta de todos contra todos pelos recursos escassos": O econômico, cultural e social. 

    O primeiro capital, mais visível e efetivamente o mais importante, dado que a elite econômica pode comprar elites acadêmicas, culturais, entre outras. Mas isso não implica perceber a economia como única instância importante na sociedade, ao contrário, sem a justificação da dominação econômica prestada por outras elites, como as elites intelectual e jurídica, por exemplo, não existe dominação econômica possível, logo existem os outros capitais que desempenham funções semelhantes ao capital econômico. O Cultural está ligado a incorporação pelo indivíduo de conhecimento útil de prestígio, é outro capital fundamental para as chances de sucesso de qualquer um no mundo moderno. Isso porque o capital cultural é tão indispensável para a produção do capitalismo quanto o capital econômico. O Capital Social, por sua vez, se refere às relações pessoais que se criam no mundo no meio do caminho entre interesse e efetividade como de resto acontece com todas as relações humanas e que representam algumas vantagens na competição pelos recursos escassos para quem as possui. Esse capital específico possui uma leitura fajuta em terras tupiniquins, o culturalismo vira-lata racista entre nós, de Sérgio Buarque e Roberto da Mata, vê o capital social de relações pessoais, apelidado por eles de jeitinho Brasileiro , como se fosse uma jabuticaba que só existe no Brasil. 

    A junção dos três capitais fazem a identidade da desigualdade brasileira, pois a elite ocupa os ambientes sociais com a finalidade de impedir ascensão dos que não possuem privilégios. As escolas e universidades são os locais que garantem que esse sistema continue fluindo, seguido da Igreja e da política. O resultado disso nada mais é que um país de elite com pessoas brancas, e os que não pertencem a ela, majoritariamente negros. 

    Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de 2017 mostra que o número de empregados domésticos no Brasil era maior que a população da Dinamarca, em média 3 empregadas para cada 100 habitantes brasileiros. A maioria desses trabalhadores são mulheres, afrodescendentes e de baixa escolaridade. Esse é o espelho de um país que após a escravidão, não teve proposta de assistencia social, e assim essa desigualdade cresce a cada geração. O segmento das empregadas domésticas é relevante não só por expor diretamente em prática a relação Burguês X Proletário, mas por mostrar que historicamente só há um destino para quem precisa vender sua força de trabalho: Uma escravidão moderna normalizada, lamentávelmente, no Brasil. 

    Gabriel Mascaro, cineasta brasileiro, ao publicar seus documentários Um lugar ao sol e Doméstica, proporciona ao telespectador uma reflexão drástica. O primeiro documentário consiste em relatos de famílias de classe média que moram em coberturas de luxo, que relatam sobre como é morar um uma cobertura. Claramente, a ideia por trás do documentário é colocar em cheque a desigualdade brasileira e para além disso, o discurso de uma classe média que se sente superior aos demais, ou o que é apresentado como complexo de vira-lata por Jessé. enquanto o segundo está focado em relatar histórias de empregadas domésticas, que se submetem a condições além dos profissionais para sobreviverem e manterem seus empregos, mostra sobretudo, a mão-de-obra barata por uma função escravocrata e consequentemente racista. Por fim, pensar em Classes Sociais no Brasil envolve etnia, raça, orientação sexual, diversidade de gênero, política, economia, cultura e luta de classes. 


REFERÊNCIAS 

ANGELIN, Paulo Eduardo, TRUZZI, Oswaldo Mário Serra. Patroas e adolescentes trabalhadoras domésticas: Relações de trabalho, gênero e classes sociais. Revista brasileira de ciências sociais, 2015. 

BRASIL. LEI COMPLEMENTAR Nº 150, DE 1º DE JUNHO DE 2015. Presidência da República Casa Civil: Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp150.htm 

CHAUÍ, Marilena. O que é Ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2008. 

JARDIM, Suzane. Reconhecendo estereótipos racistas na mídia norte-americana. Medium, 2016. Disponível em: https://medium.com/@suzanejardim/alguns-estere%C3%B3tipos-racistas-internacio nais-c7c7bfe3dbf6 Acesso em: 2 de dez. 2020. DOMÉSTICA. Gabriel Mascaro/Rachel Daisy Ellis. Brasil: Desvia, 2012. 

NETTO, Miguel. A concepção de classe Weber e Marx e os desafios contemporâneos do sindicalismo brasileiro. V jornada de Políticas Públicas. São Luís, 2011. 

Que horas ela volta?. Anna Muylaert/Fabiano Gullane; Caio Gullane; Débora Ivanov; Anna Muylaert. São Paulo: Pandora Filmes, 2015. 

SOUZA, Jessé. A elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro:Leya, 2017. 

TINEU, Rogério. Ensaio sobre a teoria das classes sociais em Marx, Weber e Bourdieu. Aurora: revista de arte, mídia e política, São Paulo, v.10, n.29, p. 89-107, jun.-set.2017 Um lugar ao sol. Gabriel Mascaro. Brasil: Símio Filmes, 2009. 

WENTZEL, Marina. O que faz o Brasil ter a maior população de domésticas do mundo. BBC News, 2017. Disponível em: . Acesso em: 23 de Novembro de 2020.

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